Comecei a assistir The Rookie recentemente e logo ficou claro: a série entende perfeitamente o ritmo da atenção contemporânea. A edição é acelerada, os cortes são frenéticos, e cada cena é uma descarga instantânea de ação, humor ou tensão. Parece um feed infinito de vídeos curtos, onde tudo é projetado para evitar que o espectador desvie o olhar. Se piscar, perde um detalhe, uma virada, um tiro disparado fora do quadro.
E esse efeito não acontece só durante os episódios. Antes mesmo de assistir à série, eu já tinha visto incontáveis trechos espalhados pelo Instagram, TikTok e YouTube. Pequenos recortes que pareciam vir de momentos distintos, mas que, assistindo com contexto, percebi que muitas vezes pertenciam ao mesmo episódio. Como se The Rookie já nascesse pronta para ser picotada e viralizada, em fragmentos de dopamina audiovisual que circulam por aí antes mesmo do espectador apertar o play.
Mas, no meio desse turbilhão, algo se perde: identidade. Diferente de um Michael Mann, que transforma ação em experiência sensorial, com geografia precisa e tensão construída no tempo certo, The Rookie se apoia apenas no volume. Os tiroteios têm o áudio estourado, os cortes dão a sensação de urgência, as cenas existem como picos de hiperestímulo, soltos, sem um fio condutor estético que unifique elas.
E tudo bem. Essa é a proposta. Não estamos falando de um estudo refinado de ação, mas de uma série projetada para consumo rápido, onde a velocidade importa mais do que a assinatura visual. É o equivalente audiovisual de um fast food: funcional, eficiente, pensado para saciar um desejo imediato. E, às vezes, tudo o que a gente quer é algo fácil de mastigar.
No fim, The Rookie entrega exatamente o que se propõe: um entretenimento viciante, pulsante, perfeito para quem não quer tempo para respirar. E, se piscar, pode ficar tranquilo—o Instagram te mostra depois.